SOBRE O PROJETO
Um projeto denominado Rede de Caprino-Ovinocultura e Diarréia Infantil do Semi-Árido (RECODISA), de cooperação entre pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (UECE), a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e a Universidade da Califórnia de Davis UC (Davis), desenvolverá caprinos transgênicos em nosso Estado que expressem lisozima e lactoferrina humanas no leite em concentrações compatíveis com aquelas presentes no leite humano.
A lisozima e a lactoferrina são substâncias imunomoduladoras e antibióticos naturais que conferem proteção pelo leite, promovendo a saúde e o crescimento do lactente.
O projeto é coordenado pelo Professor Aldo Lima, da UFC, sendo co-executores os Professores Vicente José de Figueiredo Freitas da UECE, Marcelo Bertolini, Luciana Bertolini, Renato Moreira e Ana Cristina Moreira da UNIFOR, e James Murray e Elizabeth Maga da UC Davis. Serão utilizadas as experiências da UECE e da UC Davis na produção de caprinos transgênicos aliada à experiência da UFC no estudo da etiologia da diarréia infantil, juntamente com a experiência da UNIFOR na avaliação estrutural de proteínas, biologia molecular e biotécnicas da reprodução.
O Grupo Edson Queiroz, por sua vez, fornecerá as matrizes selecionadas para o estudo. Como conseqüência deste projeto, leite e derivados contendo estes imunomoduladores deverá ser desenvolvido a médio e longo prazo. Visando contribuir com a melhoria do estado nutricional da população, a UFC e a UNIFOR estão também desenvolvendo projetos visando à agregação de valores nutricionais, como proteínas ricas em glutamina, arginina e lisina, tanto no leite como na carne e seus derivados, visando à produção de queijos probióticos e embutidos com menor teor de gordura e elevado teor de fibras, utilizando para tal, caprinos geneticamente melhorados.
A interação entre desnutrição e diarréia por muito tempo tem sido uma preocupação em países em desenvolvimento. A UNICEF fixou em 2000 a 'Meta de Desenvolvimento do Milênio' com o objetivo de reduzir, até 2015, a mortalidade infantil mundial em 75% em relação às taxas de 1990. E o Brasil faz parte deste compromisso. Embora já existam vacinas efetivas contra alguns tipos de diarréias, a proteção conferida não persiste por muito tempo; para uma proteção efetiva, é preciso que as crianças sejam continuamente expostas ao antígeno. Ademais, existe uma variedade de agentes infecciosos causadores de diarréia infantil, para os quais não existem vacinas para ação preventiva. Mesmo nos casos em que a diarréia não resulta em óbitos, a doença muita vezes persiste no organismo por longos períodos tendo um efeito devastador no desenvolvimento físico e intelectual das crianças. Daí a importância e a necessidade de investimentos em medidas específicas para combater a diarréia e mortalidade infantil, que incluem amamentação, alimentação suplementar, higiene pessoal, imunização, e desenvolvimento de novos fármacos através de soluções biotecnológicas para o benefício das populações menos favorecidas. Para combater a subnutrição, a morbidade e a mortalidade infantil com êxito no Nordeste do Brasil é necessário investir em estratégias e modelos que sejam mais adequados à base agrícola local adaptada ao semi-árido, com fomento também a alternativas biotecnológicas. A caprinocultura é sabidamente uma base importante da agricultura familiar do Semi-Árido do Nordeste brasileiro. O uso do leite e da carne de caprinos está sendo incentivada no Estado do Ceará como uma forma de combater a desnutrição. Aliada a esta estratégia, pode-se prever o uso de caprinos transgênicos, uma alternativa biotecnológica viável, como uma realidade a ser empregada na redução de doenças infecciosas e diarréia infantil no semi-árido brasileiro, com um potencial extraordinário de êxito.
O projeto da RECODISA é de longo prazo, sendo atualmente financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) por 30 meses. Os pesquisadores da Rede esperam produzir os caprinos transgênicos em um prazo de até dois anos, com estudos envolvendo o efeito do consumo do leite por humanos a ocorrer em cinco a dez anos. Antes do leite modificado tornar-se disponível para a prevenção e tratamento da diarréia infantil, anos de pesquisas e testes encontram-se pela frente, com as premissas básicas de biosegurança e ética que norteiam as ações dos pesquisadores envolvidos no projeto sendo:
1) Os animais transgênicos produzidos farão parte de um núcleo isolado de contenção, não sendo destinados à reprodução de rebanhos, ou seja, os animais não serão distribuídos a produtores. O leite modificado será o subjeto de estudo e poderá chegar à população se, após a conclusão do estudo, for confirmado seguro e efetivo na prevenção e tratamento de diarréias infantis.
2) O leite modificado produzido será extensivamente testado em laboratório contra patógenos, agentes não-patogênicos e que também podem ter importância no processamento industrial (onde não desejam-se efeitos antimicrobianos), e em modelos animais antes de ser testado ou utilizado em testes para consumo humano. São estas duas etapas que a FINEP/MCT está financiando no momento.
3) Futuramente, uma vez testado em animais, o leite será testado em humanos em testes clínicos para o estudo dos efeitos benéficos do produto, bem como para a comprovação da inexitência de potenciais efeitos negativos ou deletérios à saúde humana.
4) Uma vez testado em humanos em ensaios clínicos, o leite será fornecido a populações mais acometidas pela desnutrição e doenças diarréicas no país, como o Semi-Árido Brasileiro, para a avaliação global de sua eficácia.
5) Finalmente, após extensivos testes e após iniciadas as ações de benefício social do uso do leite modificado, este poderá e deverá chegar às prateleiras para consumo comercial.